segunda-feira, 28 de março de 2011

Porque hoje é segunda... é dia de Teoria!

Donald Woods Winnicott (Plymouth, 7 de Abril de 1896 - ?, 1971) - pediatra e psicanalista inglês.

"Para Winnicott a criança nasce indefesa. É um ser desintegrado, que percebe de maneira desorganizada os diferentes estímulos provenientes do exterior. O bebé nasce também com uma tendência para desenvolvimento. A tarefa da mãe é oferecer um suporte adequado para que as condições inatas alcancem um desenvolvimento óptimo."
Teoria sobre a importância e efeitos do cuidado materno:

HOLDING   (sustentação)
Para Winnicott a sustentação ou holding protege contra a afronta fisiológica. Esta sustentação compreende, especialmente, a mãe segurar o bebé nos seus braços como forma de amar. A mãe funciona como um ego auxiliar.
Durante os últimos meses de gestação e primeiras semanas depois do parto a mãe "entra" num estado de maior sensibilidade, uma capacidade particular para se identificar com as necessidades do bebé - "preocupação materna primária".
No vínculo entre a mãe e o bebé assentarão as bases para um desenvolvimento saudável das capacidades inatas do indivíduo.

SELF VERDADEIRO E SELF FALSO
O ser humano, para Winnicott, nasce como um conjunto desorganizado de pulsões, instintos, capacidades perceptivas e motoras que conforme progride o desenvolvimento vão se integrando, até alcançar uma imagem unificada de si e do mundo externo. (Bleicmar e Bleicmar, 1992).
Winnicott diz que a “mãe boa” é a que responde a onipotência do lactante e, de certo modo, dá-lhe sentido. O self verdadeiro começa a adquirir vida, através da força que a mãe, ao cumprir as expressões da onipotência infantil, dá ao ego débil da criança. A mãe que “não é boa” é incapaz de cumprir a onipotência da criança, pelo que repentinamente deixa de responder ao gesto da mesma, em seu lugar coloca o seu próprio gesto, cujo sentido depende da submissão ou acatamento do mesmo por parte da criança. Esta submissão constitui a primeira fase do self falso e é própria da incapacidade materna para interpretar as necessidades da criança.

OBJECTO TRANSICIONAL
O movimento da psique entre o mundo das coisas e as fabricações da mente é uma actividade "transional", adjectivo fundamental na obra de Winnicott. O conceito mais conhecido é o de "objecto transional", representado classicamente pelo "cobertorzinho" a que muitas crianças se agarram numa determinada fase. “Esse objecto é ao mesmo tempo uma coisa objectiva - existe num mundo compartilhado - e subjectiva - para o seu dono, ele faz parte de uma fantasia, "possui vida própria", explica Bogomoletz.

DESENVOLVIMENTO PSÍQUICO
Winnicott propõe que a maturação emocional se dê em três etapas sucessivas: a da integração e personalização, a da adaptação à realidade e a de pré-inquietude ou crueldade primitiva.

INTEGRAÇÃO E PERSONALIZAÇÃO
"A integração é obtida a partir de duas séries de experiências: por um lado tem especial importância a sustentação exercida pela mãe, que “recolhe os pedacinhos do ego”, permitindo a criança que se sinta integrada dentro dela; por outro lado há um tipo de experiência que tende a reunir a personalidade em um todo, a partir de dentro (a atividade mental do bebê). Chega um período em que a criança, graças às experiências citadas, consegue reunir os núcleos do seu ego, adquirindo a noção de que ela é diferente do mundo que a rodeia. Esse momento de diferenciação entre “eu” e “não-eu” pode ser perigoso para o bebê, pois o exterior pode ser sentido como perseguidor e ameaçador. Essas ameaças são neutralizadas, dentro do desenvolvimento sadio, pela existência do cuidado amoroso por parte da mãe."
"A personalização – definida por Winnicott como “o sentimento de que a de que a pessoa de alguém encontra-se no próprio corpo”. O autor propõe que o desenvolvimento normal levaria a alcançar um esquema corporal, chamando-o de unidade psique-soma. Gurfinkel (1999) diz que a psique e o soma – que formam o esquema corporal de todo indivíduo – interpenetram-se e desenvolvem-se em uma relação dialética, e apresentam o paradoxo da diversidade na unidade.
Para Winnicott mente e psique são conceitos diferentes; trata-se de registros relacionados, mas heterogêneos. A psique é a elaboração imaginativa das partes, sentimentos e funções somáticas e não se separa, nem se divide do soma. A mente, no desenvolvimento saudável, não é nada mais do que um caso particular do funcionamento do psicossoma, surgindo como uma especialidade a partir da parte psíquica do psicossoma."

ADAPTAÇÃO À REALIDADE
"Bleichmar e Bleichmar (1992) dizem que para Winnicott a fantasia precede a objectividade, e o seu enriquecimento com aspectos da realidade depende da ilusão criada pela mãe; tudo repousa no vínculo precoce da criança com sua mãe. Mas o acoplamento entre alucinação infantil e os elementos da realidade fornecidos pela mãe nunca poderá ser perfeito. No entanto, o lactante pode vivê-lo como quase óptimo, graças a uma parte de sua personalidade, que procura preencher o vazio entre alucinação e realidade – a mente."

CRUELDADE PRIMITIVA
"Depois de a criança ter alcançado a diferenciação entre ela e o meio circundante e se adaptar em certa medida à realidade, pela absorção de pautas objetivas dela, que modificam suas fantasia, o último passo que deve dar é integrar em um todo as diferentes imagens que tem de sua mãe e do mundo.
Winnicott pensa que a criança pequena tem uma cota inata de agressividade, que se exprime em determinadas condutas auto-destrutivas. O bebê volta seu ódio sobre si mesmo para proteger o objeto externo; mas esta manobra não é suficiente e em sua fantasia a mãe pode ficar intensamente danificada. (Bleichmar e Bleichmar, 1992)"

Em suma, Winnicott enfatiza a importância da participação da mãe na adaptação do bebé à realidade e no seu desenvolvimento emocional.
retirado e adaptado de http://artigos.psicologado.com/abordagens/psicanalise/winnicott-principais-conceitos