Primavera
Na Primavera, rumo ao mercado,
passa a rainha dos vendedores.
Cobre-lhe a saia, muito engomado,
o avental azul às flores.
Leva no carro, bem recheado,
toda a horta, com seus primores:
legume verde, fruto encarnado...
Não há mais frescos, não há melhores!
Todos conhecem já seu brado,
pela cidade e arredores:
- Comprem, que é tudo do vosso agrado!
Dá vida aos olhos e boas cores!
Verão
Mal o Verão chega, ao sol que cresta,
a vendedeira não se atrapalha:
defende os olhos, nariz e testa
com um doirado chapéu de palha.
E, no carrinho, espalha, então,
tomate fresco e beringela,
melão, damasco, que óptimos são
nas sobremesas e na panela.
E chama, alegre, os seus clientes
que se amontoam, logo, ao redor:- Comam damasco, metam-lhes os dentes,
pois mata a sede, mais calor!
Outono
Pelo Outono, a vendedeira
põe um xailinho, pois ela é prática:
sabe ser essa a melhor maneira
de não ter frio nem ser reumática.
E o carrinho, cada manhã
cheio de amoras, como um pomar,
transporta ameixa, pêra, maçã
e uva preta, milho pra assar.
E o brado, agora, com que alegria
sobe nos ares; com que vigor!
- Quem comer uma maçã por dia
não necessita mais do doutor!
Inverno
E no Inverno, tão fraco o sol,
a neve e a chuva tão inclementes,
a vendedeira usa cachecol,
barrete e botas, grossas e quentes.
No carro, agora, só há limão,
Laranja, couve, castanha, ervilha,
mas tão viçosos, tão lindos, tão
apetitosos, que é maravilha!
E, pelas ruas, ela apregoa:
- Limões, laranjas e tangerinas!
Não há pra gripe fruta tão boa!
Comam-lhe e bebam-lhe as vitaminas!
Poema retirado do livro Versos de Cacaracá. Texto.